O bichinho do mal que você e eu não deixamos ir

O bichinho do mal que você e eu não deixamos ir


Sou compulsiva. Leio compulsivamente, tuito compulsivamente, escrevo compulsivamente, só não como compulsivamente, graças a Deus (com exceção à chocolates em dias carregados de ansiedade e tpm). E por falar em ansiedade, sou mega power burramente improdutiva em dias que a ansiedade comanda. E essa desgraçada vive me visitando. Mas esses não são nem em sonho a cara do meu pior defeito. O meu pior defeito – meu e de um tanto bom de gente desse mundão véi sem porteira – é a auto-sabotagem. Meu Deus, como me saboto.
Vou pro norte quando quero ir pro Sul. Namorado? Vivo falando que quero, mas só me meto e enrascadas que com certeza não terminarão em namoros saudáveis e duradouros, e olha que eu nem me odeio. Mas as vezes, parece. E o pior é que como eu existem tantos…

Tenho uma amiga que quer ser jornalista, mas faz o curso de biologia. Oi? Biologia? Ao que ela responde: “Ah Camila, é o que tinha disponível na minha cidade.” Tenho outra que quer ir pra Florianópolis no reveillon, mas acabou de comprar passagem pra Salvador. Oi? Salvador? Ao que ela responde “Ah Cá, é porque tinha uma promoção mega incrível.” Tá, entendo que isso de promoção corrói mesmo nosso bom senso. Entendo minha outra amiga também que faz biologia ao invés de jornalismo porque é o disponível em sua cidade. Esses são exemplos de auto-sabotagem, mas são leves e alguns até entendíveis. Como no caso da que faz biologia. Talvez realmente não houvesse como ir pra outra cidade. Auto-sabotagem osso duro de roer mesmo é aquela que cometemos diariamente quando fazemos coisas que conscientemente sabemos que não nos levarão pra onde queremos ir. Ah meu amigo, essa é triste, e como a cometemos. Falamos que queremos mudar de emprego, mas não olhamos o classificados. Falamos que queremos ganhar mais, mas não fazemos um curso sequer pra ao menos justificar a bonificação. Falamos que queremos namorar, noivar, casar, mas nos enfiamos dia após dias em relacionamentos que sabemos previamente que nos levarão no mínimo pra cama, e no máximo a amargas lágrimas.

O problema é que as vezes se auto-sabotar é prazeroso. Como por exemplo, continuar dando uns bons amassos naquele bonitão, gostosão, tudo de bom. Deixar só porque não vai dar namoro? Ah.. não, pra nós é melhor aproveitar mais um pouquinho. Gastar aquele dinheiro da balada num curso de um final de semana inteiro, nos obrigando a pegar nos livros num baita domingão? Não.. mais pra frente, outra hora, quando o dinheiro sobrar (como se isso algum dia fosse possível, dinheiro sobrar. Puff)

Creio que a maior arma contra a auto-sabotagem é assumir o que realmente é e quer. E daí se você tá a fim só de ficar? E daí se você dá mais valor a uma balada que a aquisição de um conhecimento específico?

Temos a mania de querer nos encaixarmos no que é politicamente correto e esperado pela sociedade, e por conta disso, criamos expectativas pra nós mesmos que acabam nos frustrando, porque é claro, caminhamos ao oposto da direção delas.
O passo mais largo que dei em direção ao extermínio desse mal em mim foi me assumir pra mim e parar de fantasiar várias coisas que eu deveria querer quando na realidade, lá no fundinho, não quero.
Mas aí, meu caro, se eu, você e mais sei lá quem, se assumir, decidir o que realmente quer e ainda assim continuarmos nos auto-sabotando (mesmo que o que queiramos seja somente um beijo quente e uma cama fresca), ah, aí, podemos nos sentarmos no divã de algum psicanalista, porque a coisa já estará em estado crônico.
Camila Lourenço