“Eu acho tão bonito isso de ser abstrato baby. A beleza é mesmo tão fugaz…” Lulu Santos
Eu tinha a vida pulsando na boca sempre que ele me tocava.
As vezes, a mastigava como se fosse sucrilho, só para ouvir aquele som gostoso e crocante. As vezes, deixava parada entre o céu da boca e a língua, derretendo, só pra sentir bem demoradamente cada sensação. E eu a sentia descer queimando pela minha garganta, num gosto disfome que unia amargo, salgado, doce, azedo e se tornava no total um sabor que me viciava a cada partícula digerida.
Era como o céu enluarado das fazendas. Como as tardes de verão carregadas de nuvens escurecidas de São Paulo. Era um tudo e um nada cheio de tudo. Era inconsequência, risco, vida… era ser ser humano cru e nu.
E os cantos da minha boca tocavam as orelhas a cada besteira ouvida, sentida, subentendida.
E eu aprendia querer bem independente do quê, como, ou quem era. Só queria bem.
Aprendia ser curiosa e ouvir mais uma vez os sons que um dia a mim foram tidos por feios.
E no meio daquela bagunça toda, eu crescia. E de um jeito esquisito descobria que a vida é uma coisa meio assim mesmo, com um gosto diferente a cada dia. Sem fórmulas previsíveis. E que apreço nunca seria algo que eu doaria por merecimento. Era algo que simplesmente nasceria pelo que de uma maneira ou de outra, mesmo que de uma forma inconvencional conseguisse me pegar pelas mãos e me deitar numa cama gostosa e fofa chamada felicidade – ainda que momentânea. E eu aprendia que a felicidade, no fundo é isso mesmo: um amontoado de momentos.
Camila Lourenço