Ar em comprimidos

Tenho saudades reprimidas. Minhas saudades nascem antes mesmo do momento morrer. Pulsam nas minhas veias, na vontade de congelar o tempo, todos os tempos, pra ficar, sempre lá, junto ao que a deixa saudosa antes mesmo de virar momento passado.

Tenho somente um pulmão no corpo. O outro está perdido em fragmentos pelo mundo, e eu só respiro direito quando o encontro. Um pedaço aqui, outro acolá. Sendo assim, minha respiração nunca é normal, é sempre entrecortada, arfante. Talvez venha daí a saudade ainda no momento presente. Porque é tão bom respirar com dois pulmões, ou algo parecido, que quando acontece, pararia o tempo somente para degustar mais um pouco daquele ar entrando pelas minhas narinas, me percorrendo toda, e passando através de algum beijo ou abraço para a outra parte de mim presa na de alguém.
Meu ar vem aos pouquinhos, em comprimidos, e fica o tempo o suficiente para que eu queira, pra sempre, ficar ali, respirando por tabela, perdendo o pouco do fôlego que me resta num beijo que nunca precisa de explicação para merecer toda minha atenção e fôlego e, fazer com que a saudade seja a coisa mais presente que meu presente já teve.
“Meu bem – Folk Heart”
Camila Lourenço