Quebrei minhas próprias regras, saltei no meu próprio abismo. Fui no meu limite, e descobri que ele não existe. Nem pra cima e nem pra baixo.
Bebi mais água que devia, com a sofreguidão dos que sabem que irá lhe faltar. Abri a janela do carro quando o vento estava frio e forte, abri os braços na garupa da moto da vida no cume mais alto, só pra me sentir livre. Saltei de pára-quedas agarrada a um corpo quente segurando o meu e nem as quedas mais feias fizeram o salto parecer não convidativo.
Joguei comigo mesma, extrapolando os meus limites, sendo gente, e querendo bem com olhos, ouvidos, risadas, lágrimas, tensões, loucuras e sanidade.
Fiquei no céu, vivendo num inferno.
Fui pega pelas pernas pelo conhecimento. Quis ser cientista e saber mais sobre genética. Quis ser mágica ou adivinha, e descobrir se no futuro a chave correta da minha porta, igual a errada que eu amava, apareceria.
Quis dormir pra poder sonhar mais. Quis ficar acordada pro tempo nunca passar. Quis ter nascido em outra época, quis aqui nessa época nunca voltar.
Brinquei de bad girl comigo mesma e descobri que essência é uma coisa que não se muda.
Abdiquei de um passeio aqui, outra descontração ali em nome do meu sorriso perfeito.
Guardei a última canção, coloquei no som pra tocar, pra dormir, na esperança de acordar curada de mim, ciente que eu era a minha pior doença e meu único remédio.
Gravei “menina” na parede do quarto, em frente à cama, pra me lembrar pra sempre que em algumas brincadeiras, meninas não podem entrar sem se machucar.
Digeri as sensações, bebi aquele meu abraço pra mim mesma e respirei fundo. Há que se crescer. Há de se sobreviver.
“The girl – Citty and Collour”
Camila Lourenço