Não entendo porque a gente ouve algumas músicas se essas músicas vão nos fazer chorar. Não entendo porque existem tantas regras bobas no mundo, que apesar de serem bobas, se você não as segue, está fadado ao fracasso, ou a um rótulo mal dado. Como puxar saco, ou engolir o que sente e mostrar um sorriso, ou, fingir que está tudo bem quando tudo na realidade, está péssimo.
Não entendo também porque reclamamos tanto. Reclamamos quando a vida está cor de papelão, sem graça, sem vida, sem coração batendo forte, e reclamamos também quando ele enfim, decidi fazer a coisa aqui dentro desandar. Não entendo.
Não entendo também porque a gente mesmo sabendo que não deve pegar algum caminho, acaba pegando. E não entendo mais ainda porque a gente sente vontade de voltar no tempo pra nunca ter entrado, mesmo aquele percurso tendo nos trago tantas alegrias. Ou melhor, até entendo, “não se sente falta do que nunca teve”.
Não entendo também porque o estômago fecha quando ficamos tristes, nem porque o coração bate no chão desse mesmo estômago quando “aquela” pessoa passa, nem também porque dizem que só se ama uma vez na vida (ta aí uma das mentiras mais absurdas que nos contam). Não entendo como a gente continua desejando aquele bem danado para quem por tantas vezes nos fez chorar, ou melhor, isso entendo, acho que é bem nesse momento que começamos entender o que é amar.
Queria também não entender porque temos tanta dificuldade em deixar algumas coisas voarem, os amores, os nós, se soltarem. Isso eu não queria entender, mas eu entendo. É que deixar voar, aceitar o “vai passar” é abraçar a possibilidade de não mais sentir, não mais amar. De ver como “mais um” quem víamos como único, “o cara”, “o tal”. É aceitar que os momentos bons, gostosos, inesquecíveis, serão só momentos, de uma página meio amarelada pelo passado. É aceitar trocar de música, de estação, de rádio, quem sabe até de cidade, pra não mais lembrar, não mais chorar, não mais amar, não mais nada. Disso eu não queria entender. Não queria entender porque alguns amores – ou chamem como quiser – ficam. Ficam porque a gente deixa. Porque a idéia de superar, de não importar, de deixar o céu colorido virar passado cor pastel é ainda mais dolorido que senti-lo pulsar em nós, mesmo machucando. E é por isso que a gente vai engolindo muita coisa, abdicando de outras, e ai, nos olham e falam:”Você está perdendo seu tempo… a vida tá passando”, e sorrimos. Parece que alguns “tempos” a gente tem mesmo que perder, pra ganhar. De si. Da vida.
Camila Lourenço