O insano

“Eu te deixo guiar não porque sou boba, é porque você é o odioso que mais me faz borrar a maquiagem, mas também o que mais me faz exercitar os músculos do rosto…sorrindo.”

Eu queria que o cérebro fosse maior que ele, ou que até o estômago fosse maior que ele. Eu queria que qualquer coisa se sobrepusesse ao seu tamanho enorme. A insanidade, a viagem, a razão. Eu só não queria vê-lo ali, sentado na direção do meu veicúlo chamado vida. Tirando fino de cada parede de pedra pela qual passávamos, cantando pneu em cada curva que encontrávamos. Mas isso não cabia a mim. Ele já tinha decidido que seria o maior do mundo, o mais aventureiro, o mais triste e o mais feliz, e foi, e é assim, até quando não pode.

Tentei arrancá-lo uma vez daquele banco, mas quando vi tudo quanto ele fazia caber naquele espaço, quantas coisas ele havia engolido, quantas lágrimas havia derramado, quantas noites em claro já tinha passado e quantas horas de riso já havia gastado não aguentei. Deixei-o ali, como estava.
Ele sabe me fazer sofrer, sentir medo e todas essas coisas tensas e do gênero, mas faz também a felicidade ficar mesmo entre lágrimas, e todas as coisas boas, com ele, pesam mais que as ruins. E eu sei que isso é guerra perdida, ele vence sem mesmo lutar.
A verdade é que a vida não tem muita graça sem ele envolvido em cada minuto e dando a tudo a medida exata para que eu fique sem fôlego.
No fundo, ele, o insano o coração sabe que é o único guardião capaz de me levar onde está o feitiço da felicidade. E ele leva. Tá certo que antes ele me passa um tanto bom de raiva e me coloca em algumas frias que só ele mesmo é capaz de inventar, mas, ele sempre leva ao céu, e isso não há como ignorar.
Então, se ir para o “inferno” é uma premissa depois, já não vejo como me importar. Ele já me deixou viciada no céu que nasce dentro de mim quando ele está no comando, e agora, essa luta já não tem nada a ver comigo. É entre eu e a pessoa mais feliz e triste do mundo que eu me torno quando ele está na direção, é entre eu e essa sensação de “estou viva” que circula nas minhas veias quando ele me faz saltar, sem para-quedas, no mundo. E eu sempre perco pra mim, e devo confessar, eu me amo, e me odeio amando, ainda mais por isso.

Camila Lourenço