Você me engole. Me engole quando me olha, quando me fala, quando me toca, quando me vê. Sei que você me engole porque quando isso acontece, só vejo você. Olho pro lado e você está lá, zombando da graça desprovida de inteligência da vida. Respiro fundo e seu cheiro meio agre, meio doce, meio OGRO-doce impregna meus pulmões. Mastigo e ouço o som crocante de você entrando nos meus dentes, machucando minha gengiva, me fazendo sangrar e ainda assim, sendo irritantemente indispensável. Você me engole, eu sei. Quando aperta meu corpo me fazendo sumir no seu, fazendo dos meus fios de cabelo seus anéis. Você me engole, me absorve, me (re)tem. E quando habito seu corpo nesse cárcere-privado-aberto, meu mundo adquire uma redoma estranha, desconhecida e viscosa, que quanto mais tento sair, mais atolada fico, e por mais rico em liberdade que seja, mais me mantém refém. Refém por vontade. Ai me entrego, pego um livro e me descanso em você. Me encosto nas paredes do seu interior e fico esperando a vida, sei lá como, nos parir.