Tem gente que escreve “pra poupar o dinheiro da terapia (by Flávia Queiroz)“. Eu escrevo pra me perder. Me perder. Me achar. Pra não morrer. “Pra não matar. (by Alícia Roncero)” Pra não morrer pro mundo, pra não me matar em mim, pra não matar o mundo em mim.
É engraçado como as palavras libertam e aprisionam, e isso, todo mundo já sabe, mas é engraçado também, e estranho como a gente se encontra nas palavras alheias. Como se as palavras transcritas por outros fossem muitas vezes o grito preso na garganta que não encontrou a voz que queríamos dar. Nos encontramos lendo textos alheios. Nos perdemos nas palavras pra nos encontrarmos conosco.
O ser humano precisa falar, expor de alguma forma o que incomoda ou agrada. E na falta de conseguir colocar em palavras o que lhe vai no íntimo, lê com a ânsia de uma esponja seca em um recipiente molhado.
Os pais leem para os filhos encontrarem o sono, as professoras para os alunos encontrarem o mundo. E nós pra aprendermos da vida, ou lembrar que é preciso desaprender.
Eu leio e escrevo pra não me perder e pra me perder pra poder me achar.
A escrita é o grito da sanidade em tempos de loucura, a voz da revolta em tempos de crise, a calmaria da alma em tempos de tormenta. É o amor em tempos de romance, a expressão da lágrima em tempos de angústia. O grito da alegria em tempos de festa. A libertação quase extrema da alma humana em tempos de solidão.
Quando aprendi juntar letrinha por letrinha, descobri o mundo. Quando passei usá-las, o mundo, meu mundo, descobriu a mim.
Há quem escreva pra viver. Eu escrevo pra não morrer e uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Camila Lourenço