Pelo direito de ser mulherzinha

É, pois é, pois é. Os tempos mudaram, “vestimos” calças, conquistamos a presidência das empresas e da República. Diminuímos o tamanho do cabelo, da roupa e do medo. Votamos, reivindicamos, sustentamos. Pagamos conta, moramos sozinha, temos filhos, não temos filhos. Muita coisa mudou e hoje nós mulheres trazemos sobre os ombros as conquistas e consequências de nossas conquistas. Hoje temos que ser fortes, duras, sensuais e independentes. E, SOMOS, mas, eu quero deixar aqui um apelo: NOS DEIXEM SER MULHERZINHAS.
Se você não é mulher, não vai entender como é um saco ter que fingir que adora esse negócio de pegar e não se apegar. Não vai entender também que apesar de transarmos porque queremos, rola sim uma vontade e necessidade de ser tratada com cuidado e carinho no dia posterior.
Se você não é mulher, também não vai entender como faz cócegas no coração um elogio inesperado, ou uma ligação de boa noite. Talvez não entenda também que nos importamos sim com algumas coisinhas que fingimos não nos importarmos. Claro que você não vai entender. Nem mesmo nós entendemos.
Durante muito tempo, muitas de nós ficamos presas à obrigatoriedade implícita e inconsciente que precisamos ser fortes, modernas, desapegadas e fomos. E enquanto fomos o nosso melhor lado, o lado humano e sonhador, o lado feminino, morreu um pouquinho asfixiado dia após dia.
Nesse “adapte-se” aqui, “supere-se” acolá, “seja forte” ali fomos nos perdendo. De nós e presa a tanta coisa que o mundo e nós mesmas nos cobramos de ser, acabamos nos esquecendo que a vida pode ser mais leve. Então, pelo direito de ser mulherzinha hoje escrevo.
Entenda: vamos continuar chorando por motivos bestas na TPM (e as vezes fora dela também) e isso não quer dizer que sejamos fracas, apenas que as vezes, sentimos demais. Perceba que somos sim as independentes que vocês acham que somos, mas que um colo e abraço em um dia tenso nunca será por nós visto como um presente ingrato.
Temos desejo. Sangue correndo nas veias e é pra nós um feito quase heroico cada vez que cedemos a eles, mas que, sim, amargamos muitas e muitas sensações inconscientes quando assim o fazemos sem ter no fundo algumas certezas que gostaríamos.
E nós,mulheres,entendamos de uma vez que não é preciso burlarmos crenças e valores que sempre nos acompanharam somente porque a sociedade nos grita “deixe de ser brega. O que que tem ser assim?”.
Quando nos aceitamos e aceitamos inclusive o que realmente não têm a ver conosco, tendemos a nos colocarmos no nosso ponto exato no mundo, que por estarmos onde realmente queríamos estar, deixa de nos sufocar.
Então, pelo direito de ser mulherzinha, de se permitir mulherzinha hoje eu grito.

De tantas mil maneiras que ser mulherzinha pode ser, estou certa que várias dessas irão nos agradar.”


Camila Lourenço