Para ler ao som de:
Me deixe estar. Me deixe ser esse ser humano que não deu tão certo nem tão errado.
Me deixe adormecer distante das suas expectativas. Lidar com meus próprios demônios já me é o suficiente. Me deixe encontrar meu próprio espaço e respostas em mim.
Quero olhar meu próprio Cristo nos olhos enquanto ele morre em meu peito, desnecessariamente, por medos que eu poderia extirpar, e demônios que eu mesma poderia espantar.
Não tente me salvar. Apesar de querer, só mesmo minhas próprias mãos conseguem me tirar do lamaçal. Quero dançar despida de mim pra lua, e em seu brilho ver refletido toda glória da minha solidão, da minha derrota. E dançando assim, só, sob os cacos, me enlaçar na coragem de encontrar chão firme, guiada por meus próprios gritos. Meus próprios apelos.
Não me cobre perfeição! Eu não quero tua ambição de sucesso! O que é sucesso? Ter um carro importado e não saber mais andar? Ter uma casa bonita e não conseguir mais dormir?
Me deixe com a minha fraqueza pois é em seus olhos e poros que encontro minha força. É olhando nos olhos dos meus medos que eu os convido a ficar. É na retina dos meus fantasmas particulares que deixo de ser só pra ser tudo que sou. E de repente, tão rápido como o respirar, o medo se faz coragem, a sombra encara a luz, e com cada coisa em seu lugar, mesmo em meio ao caos, eu encontro a paz. É no olho do furacão que está a calmaria que meu coração nadou para encontrar.
Enquanto os prédios assistem minha queda e ascensão, minha morte e renascimento, sem nada fazer além de sussurrar milhões de análises julgamentistas, eu nado para o bote de salvação que se formou das lágrimas que ninguém sentiu, enquanto todas as mãos batiam o martelo do certo e errado.
É nas trevas de mim mesma que encontro minha luz e redescubro que não há outro lugar do mundo que habita as respostas que se não, em mim mesma.