Um dia um diretor me disse uma frase que, eu não sabia, me marcaria para sempre: “A profissão dá pra gente o mesmo tanto que damos a ela”. No dia e no contexto do nosso espetáculo, eu não consegui entender a amplitude dessa frase, hoje sim. Dando à frase a abrangência que ela merece, posso dizer: A vida nos dá o mesmo tanto que nos damos a ela.
Não são raras as pessoas que crescem vendo família, amigos e desconhecidos sendo infelizes com suas escolhas, quer sejam profissionais, emocionais ou em outra área qualquer. Muitos as fazem no calor do momento ou necessidade e depois se vêem obrigados a conviver o resto (ou parte) da vida com as consequências das mesmas e por não estarem onde gostariam de estar, como ou com quem gostariam de estar, vivem pela metade. Seu corpo está ali, mas seu coração e espírito vagueiam pelo mundo dos sonhos ou pelo mundo do “se”. “Se eu tivesse feito isso”, “se eu não tivesse feito aquilo”, etc.
Nós mesmos. Quem nunca aceitou um trabalho que não tinha nada a ver com o que queria (e que mais tarde viria odiar) por necessidade-urgente-de-dinheiro-no-bolso? Ou, quem nunca colocou em sua vida alguém que não era bem o que queria, ou que sabia não ser o momento só para atender uma voluntariedade do momento (ou coisa parecida)?
Respeitarmos a nós mesmos, não é tarefa simples, por mais óbvio que pareça. Dizer não para situações que não condizem com o que acreditamos (mesmo que sejam as únicas disponíveis no momento), ou para empregos que não são o que estamos procurando, ou para pessoas interessantíssimas só porque não é o nosso momento, chega ser maluco a primeira vista, mas as vezes, é necessário.
Não digo com isso que tenhamos que sair dispensando coisas que precisamos porque meramente não é o que esperávamos. Evidencio sim aqui, a necessidade de se optarmos por qualquer coisa que seja, que seja por inteiro. Porque qualquer situação, por mais linda e reluzente que seja, se tornará um peso morto em nossos ombros se a ela não empenharmos de coração. E é aí, no tal coração, que está a chave, e é aí também que entra respeitarmos a nós mesmos. Sabermos nos ouvir pra saber o que esse bendito está gritando e querendo. Renegar onde está o nosso coração só porque a razão nos aponta para algum local, não fará com que ele pare de gritar, fará apenas com que você não esteja de corpo, alma e coração no que você decidir fazer.
Parar, ouvir e entender o que seu próprio eu quer não é perder tempo, é dar a si o que vivemos cobrando dos outros: amor. As vezes, o que precisamos é só de um pouco de atenção, nossa atenção, para estarmos preparados para estarmos inteiros pro que der e vier.
De nada adianta abraçar o mundo, estando em todos os lugares e não estando onde está o nosso “tesouro”, nosso coração. E quando digo coração, falo bem mais amplamente do que no sentido romântico.
Ser inteiro não é dever nosso para com nosso trabalho, amigos ou família. É um gesto de amor nosso para com nós mesmos.
“Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.”