A moda de ser hipócrita

A moda de ser hipócrita

Rasgo meu pedaço de bife enquanto ouço no jornal o caso de canibalismo que chocou toda TV.

Ligo o carro e ouço no rádio sobre as últimas árvores que  arrancaram para eu me locomover.

Grito “Fora Dilma”, enquanto encabeçando o meu coro está aquele homem que no histórico tem homofobia e acusação de receber propina por poder;

Vejo o convite para o #MovimentoBrasillivre no outdoor da estrada que foi manchete pelos buracos onde quase um trem faz-se caber.

Depois de alisar o meu cachorro, parto para o açougue, e vejo um porco morrer, mas digo: “esse pode, porque esse é pra comer”.

Grito viado no trânsito, me enojo e tapo os olhos dos meus filhos se há dois barbados se beijando, mas no escritório bato na bunda da secretária, porque a minha família essa não ofende, porque ela também é de comer.

Mulher de saia curta pra mim está pedindo pra ser violentada, mas acho engraçado a bunda da morena do comercial de cerveja que estampam na TV.

Falo da filha de todo mundo, sou o melhor do mundo, porque pago meus impostos, a lenha nos outros eu posso meter.

Não estudo história, entendo patavinas de política, nem procuro aprender, mas pra mim toda essa mazela, tem um nome e ele atende por PT.

Desperdiço a única chance que tenho pra mudar algo, voto no menos pior e quando vira baderna, sem provas, e argumentos, decido tirá-lo do poder.

Sou idoso, mas ajo feito menino. Eu defendo meus partidos que fazem meu dinheiro de cabide para cargos no poder.

Enquanto minha tia morre na fila do posto da esquina eu reclamo da corrupção, furando a fila para ela atenderem.

Comento o que leio nas manchetes, minha pauta do dia decido na timeline que vou descendo pelo PC.

Grito aos quatro cantos tudo que faço, e volto gritando “vai cuidar da sua vida”, quando alguém decide em minha vida se meter.

Pago impostos, sou certinho. Tenho licença para ser hipócrita. Nesse país de antagonismos a hipocrisia já tem licença para fazer parte do meu ser.