Amar é simples. Sei pela dificuldade que todos encontram em exercer tal verbo. Porque é o simples que complica as nossas pernas. Porque é a dificuldade que faz brilhar nossos olhos, ainda que inconscientemente.
Amar é difícil porque a princípio, é fácil como respirar. Basta encher os pulmões. É simples como adorar os sorrisos com covinhas, ou achar bonito o brilho dos olhos. Amar é simples, e é esse o nosso martírio.
É incrível como caras “certos” se transformam em errados, quando passam ser nossos objetos de desejo. Como pessoas que tem muito em comum e procuram a mesma porta, não conseguem unir as mãos.
Seria cômico se não fosse triste, a dessincronia da humanidade. Da nossa dessincronia. Onde todos se procuram e nunca se acham.
Não é a má gramática da vida que nos impede de conjugar o verbo amor. É a nossa versão analfabeta e medrosa, criada pra ser individualista, louca para dividir um sonho na padaria, e medrosa o suficiente para correr quando atravessam a fronteira. Digo por mim, que de todas minhas reinvenções, ainda não encontrei uma que conseguisse não partir quando o que queria era ficar.
É a sede destemperada, o medo fantasmagórico da perda, dos sentimentos em desalinho se agigantando que nos faz assim: vencedores de causas onde perder seria a maior vitória.
Amar é fácil. Como é fácil rir das piadas daquele cômico da internet. Como se emocionar com os textos lindos da colega do trabalho. Amar é fácil como derreter sorvete no céu da boca. E é exatamente por isso que a gente não ama. Vivemos pela busca da vitória, onde perder o bem querido significa o querer vê-lo pedir arrego somente parar lhe oferecermos um sonoro e gigantesco não. Porque ser quem dá o pé e não quem leva o chute na bunda, é apetitoso demais, e amparados pelo medo de sofrer, todos querem ser os primeiros a mostrar ao outro a porta da rua, serventia da casa.
Amar é simples como gostar da comida de mãe. Como aceitar colo de avô. Como não rejeitar pudim da avó. Amar é fácil e de tão fácil, torna-se difícil.
Por que nos contaram muitas histórias de super heróis e de fadas encantadas na infância. Porque não serve a bola que está ao alcance das mãos. Tem que ser aquela, pequena, azul, descolorida, que sabe-se lá porque ficou em nossas mãos somente durante alguns minutos e que mal lembraremos dos detalhes quando a tivermos nas mãos e depois de cansados, resolvermos a esvaziar. Porque todo mundo precisa de um drama pra ater-se a vida. Porque a dor, o medo da perda e da rejeição, ainda provoca mais borboletas no estômago que um abraço quentinho e estendido no fim da tarde. Porque temos impulso de deuses, querendo desafiar o impossível, inventando-o.
Seria piada se não fosse tragédia: Uma humanidade inteira com corações vazios querendo preenchimento, no entanto, sem nunca se permitirem, e ironicamente, tentando exatamente o oposto.
Seria fácil se fosse difícil. Porque encostar no céu é simples demais. Queremos engolir as estrelas.
E então o amor casa-se com aqueles poucos que se permitem a vida, e nós, reles mortais com síndromes de deuses, continuamos numa caçada heróica de algo que sempre esteve embaixo do nosso nariz mas, que por ser simples demais preferimos ignorar.
com passos de formiga e sem vontade.”
“Adele – Hiding my Heart”