Aos que ficam mesmo quando não estão

Eu me mudei. Eu mudei. E entre tantos encontros e desencontros de mim mesma, entre meus eus e ais, eu reencontrei você.

Encontrei você num Cd velho, guardado, jogado entre as tralhas que iriam para o lixo e que eu decidi revirar.

Eu te encontrei nas blusas que um dia foram novas e hoje são retalhos recortados de uma vida cheia de emendas.

Eu te encontrei no caderno de desenhos, de frases e declarações dos 15 anos.

No pra sempre rabiscado com grafia de 13 anos.

Eu abracei a tua falta pra preencher teu vazio. Abracei pra preencher o silêncio do cuidado que se perdeu no vão do tempo. Eu te abracei e sorri enquanto ouvia sorrindo-chorando as músicas que você escolheu a dedo para eu ouvir no natal de 2001. E eu relembrei das nossas risadas e demônios. Como nossas preocupações eram bobas, como nossos dramas eram comédias.

Eu abracei o pedaço de papel que te tinha pra ver se ele preenchia a falta que teu “Como você está?” faz agora.

E enquanto eu te abraçava, eu senti os caminhos do vento, do tempo, da vida. Que nos coloca entre tantas aspas e pontos-e-vírgulas e nos impede, ou nos dá muletas para usarmos como desculpas, para as promessas que deixamos de cumprir.

Nos revivendo mascando chicle, com o cabelo ao vento e a mochila cheia de esperanças, eu chorei pelas nossas mudanças, pelos nós soltos, e entre lágrimas, eu selei novamente nossa promessa de estarmos aqui um para o outro quando a vida soprar precisão. E eu te mandei um abraço apertado em oração, torcendo para que a lua te relembrasse dos nossos juramentos juvenis, sabendo que mesmo que nossos ouvidos tenham ficando tanto sem experimentarem nossas vozes, estamos aqui. Estaremos sempre aqui. Um para o outro, ainda que ambos estejamos vivendo apenas pra nós mesmos, saboreando o inverno da vida sozinhos. Eu sei que estaremos sempre aqui um para o outro, ambos pro mundo, ambos para fazer valer nossa promessa de amigos para sempre. Meu amigo. Minha amiga. Meus irmãos.

|Foto: Carol Lima|