Comprei fé da última estrela cadente que vi.
O pagamento foi minha total veneração. Eu parei a rotação do meu tempo pra ficar observando cada milésimo de segundo que ela dançou na minha frente, me fazendo suspirar com o rastro de brilho que deixou nos meus olhos. Em troca ela me deu fé. Uma fé que as vezes nem parece que é. Mas é fé. Fé que não me levanta, mas me dá força no punho para que meus braços sustentem a minha própria existência. Que limpa minha retina, como flanelinha da esquina limpa o para-brisa do carro no semáforo. E ela não tem lente de aumento. Não tem lente colorida. Ela é quase resignação. Ela as vezes se confunde com determinação, e me dá a certeza de que vai dar pé, que vai dar pé, que vai dar pé. Que uma hora, vai dar pé.
Essa fé, meio determinação, meio resignação, meio resiliência, me deixa repetir 13 vezes, vai dar pé, vai dar pé, vai dar pé, porque eu não tenho mais medo do 13, nem de azar, nem de escada no meio da calçada, nem de espelho que dá reflexo quebrado. E agora eu repito 13 vezes: que seja doce, que seja doce, que seja doce, vai dar pé, o que eu quiser. Do espelho quebrado eu faço um mosaico. A escada da calçada eu faço me levar onde quero estar. O que antes era azar, agora eu chamo de sapato e calço pra me proteger da pedra do chão, do graveto da estrada.
Uma estrela me vendeu fé. E quando a validade da minha está esgotando, ou perdendo a força, eu volto os olhos para o céu, pra onde minha estrela cadente um dia me sorriu, e com prazer, recomeço todo esse processo novamente.