Pra ler ao som de:
Não é preciso ser nenhum gênio pra saber que a maioria das burradas que fazemos na vida vêm por nos apegarmos a coisas e pessoas que não merecem nossa atenção. A orgulhos bobos que não nos levam a lugar algum. A modinhas passageiras que nos tiram o foco, a manias bobas de falar quando deveríamos ouvir.
A verdade é que se pensássemos no quão a vida realmente é finita e curta, mesmo quando longa, boa parte dessas besteiras ficariam para lá. Se antes do futuro a gente soubesse que talvez quem nos fala agora, amanhã não se lembrará de nós devido a uma doença, talvez tentaríamos entender seu ponto de vista, suas escolhas e manias, por mais antagônicas às nossas que as vezes pareçam.
Ontem vi minha avó, e conversando com ela, me dei conta que ela não se lembrava das nossas histórias mais bonitas, da sua história bonita. Quase três anos atrás, num domingo de Páscoa, eu me sentei com ela e meu avô para saber como eles se conheceram e nesse dia descobri o quanto minha avó havia sido corajosa e moderna quando, 61 anos atrás, pediu meu avô em namoro. Naquele domingo de Páscoa, meus avós me ensinaram em uma tarde de conversa o que talvez eu levaria uma vida inteira para aprender. Me falaram sobre tolerância, fraternidade, companheirismo, cuidado e o quanto o amor é simples. Eu me lembro disso, minha avó, não mais.
Quando eu era criança, amava mexer em cabelos, e minha avó, odiava que tocassem nos seus, mas um dia ela deixou que eu fizesse tranças em suas ainda negras madeixas. Ela sempre me relembrava com um resmungo que não gostava quando de novo, eu tentava repetir a façanha. Agora, ela já nem briga quando eu mexo em seus cabelos. Eu preferiria que brigasse.
Por que contei a história da minha avó no meio desse texto? Porque quando somos novos e temos o mundo pela frente, nos prendemos demais a besteiras, a coisas pequenas, a gente que não é da gente, e quando nos damos conta, o melhor de quem tínhamos perto passou e não vimos.
Dar conselhos é meio que uma forma de nos vingarmos da vida, evitando que ela atropele mais algum desavisado. Vingando talvez salvando alguém de um tombo desnecessário.
Não tenho tanta idade, nem levei tanta porrada, mas hoje quero tentar me vingar da vida, das escolhas nem tão boas falando pra vocês desapegarem das pessoas toscas que todos os dias os fazem sentir-se bobos ou inferiores. Analisem situações antes de entrarem. Algumas coisas não merecem nosso tempo. Tentem entender os motivos que fazem com quê quem está ao seu redor aja como age. É sempre mais fácil lidar com uma pele quando conseguimos entender suas cicatrizes e se suas marcas ainda doem. Tentem também exercitar a paciência. As vezes é realmente um saco ter que explicar mil e quinhentas vezes algo que pra você é óbvio, mas respire e tente. Tente não ser atropelado pela vida sem ver se ela era um caminhão ou uma bicicleta. Esteja consciente e dê seu melhor, para que quando você não mais se lembrar da sua história, haja quem ainda se lembre, te relembre e se inspire por você.
Aprecie quem está do lado. Talvez no próximo ponto, ela desça.
Mas, se por fim, alguns erros forem imprescindíveis à vocês cometê-los, cometa-os de propósito, conscientes de cada escolha. Escolhendo cada ato, mesmo que haja consequência. Porque se for pra perder algumas das belas paisagens e toques inesquecíveis, que vocês percam por algo que acreditavam valer a pena.