Coragem

Eu nunca entendi muito bem desse negócio de ser metade.

A mim sempre pareceu uma loucura estar e não estar. Ser mas não tanto.

Ora, se a vida é um mergulho único, onde você já nasce se afogando, como ousar ser menos que tudo?

Eu nunca manjei da covardia de não encarar a vida de frente. Mudei de idéia várias vezes, mas enquanto eu quis, quis com tudo que sou. Eu sempre sei bem o que quero, ainda que na próxima esquina descubra que eu não desejo mais.

E é por isso, que depois de cada tombo, eu me levanto mais forte. É de se comemorar cada maneira de não fazer que encontramos. É de se celebrar cada ato de coragem que encenamos. E é de se estabelecer uma imensa fé na vida, saber-se alguém que sabe o que quer.

São tantos perdidos, as vezes velhos, que agem feito meninos. Tantos meninos em corpo maduros que desperdiçam o tempo do relógio em amarelinhas que já se sabe o final, que ser alguém que tenta o novo deveria ser prece de gratidão todos os dias.

Porque na verdade, é a nossa verdade que faz nossos pés chegarem até onde está quem vai dividir conosco as rugas, ainda que pra isso, precisemos nos reiventar e renascer mais mil e quinhentas vezes.

É engrandecedor ter os pés cansados e ainda assim, continuar caminhando com a fé inabalável de quem sabe que a vida não nos nega o que nos deve nem renega o que semeamos.

É de se amar permitir-se inteiro em um mundo de esmolas.

Que Deus nos guiem para os inteiros, para os que apesar de todas as cicatrizes do mundo, ainda ousam arriscar SER.