Pra ler ao som de:
Hoje eu pensei em você ao acordar. Pensei e me lembrei de tudo que deixei por sua causa. Me lembrei de tudo que fiz e deixei de fazer para que você me achasse mais legal e mais inteligente, menos boba e sensível, mais forte e austera. Me lembrei de você e olhei pra mim e confesso, quase não me reconheci. É incrível tudo que descobri em mim graças a você. A maneira mais grave como minha voz pode soar, ou o peso que eu posso conseguir carregar, o gosto apurado e comportado que posso ter, a indiferença fria e defensiva que com você eu aprendi sentir. É preciso dizer que a pilastra do medo não era tão alta e intransponível como eu acreditava, e depois de você eu sei que quando eu não conseguir derrubá-la, eu posso escalar.
Agora eu sei que respirar fundo resolve, caso um toque de telefonema resolva desalinhar meu batimento, e sei também que eu posso ficar de pé, e muito mais, quando a situação apertar e as pancadas doerem. Eu sei de tudo isso, mas dê-me licença.
Hoje eu dei play em todas as músicas que deixei de ouvir pra ser mais forte e menos sensível pra você.
Dê-me licença, porque hoje eu assoprei a poeira daqueles livros velhos que me faziam ter aquela fé besta que você dizia que me transformava em uma “Poliana”.
Dê licença que o meu coração quer passar.
Hoje eu tirei o salto alto e andei descalça como quando era criança e parecia ser mais viva se havia terra entre meus dedos.
Dê-me licença, porque hoje eu vou sentir tudo que houver pra sentir, e vou rir desordenadamente e daquele jeito escandaloso e vergonhoso que como você me ensinou, não combinava com a etiqueta.
Dê-me licença, porque as abas do meu computador estão abertas com todos aqueles sites bobos e melosos que você tanto criticava, e a música, aquela música mais melosa que você me achava ridícula por chorar em todas as 12356456764 vezes que a ouvia, está tocando. E adivinhe só? Eu estou chorando! Chorando porque mesmo tendo aprendido ser forte e impermeável como você, eu ainda posso sentir.
Hoje, dê-me licença, porque eu vou me lambuzar como quando te conheci e estava toda suja de tinta e doce. Eu vou me jogar como no nosso segundo grande encontro. Dê-me licença, VIDA, porque a minha melhor versão pra você, é quando eu não sabia o que era você, nem como seus tapas poderiam ser doídos e nem que como os tombos, por se jogar demais, poderiam ser desastrosos.
Eu sei que pra te apreciar e saciar é preciso várias pitadas de Maquiavel, planejamento, raízes e força. Eu sei. Mas dê-me licença, porque de nada vale as pernas mais fortes do mundo, se frente a uma paisagem linda, eu não puder correr. De nada valem os braços mais leves do mundo, se frente a um precipício, eu não puder voar. De nada vale um coração grande e forte, se ele for incapaz de amar.
Então DÊ-ME LICENÇA, porque a minha alegria por TE TER, quer passar.
E se de tudo e por tudo, por você eu me machucar de novo, tudo bem. Eu prefiro o vento na cara dos que saem a rua que a frieza cômoda e confortável de quem vê o sentir passar.