E então até o triste se torna belo

Tudo ao redor pode estar escuro, mas quando quero, sempre consigo te encontrar.

Nem sempre te vejo. Nem sempre te sinto. Mas eu sempre te sei. Não há como não te saber.
Se eu respiro fundo você penetra meus pulmões. Se meus olhos regam minha face, é sua mão quente que sinto descendo na pele do meu rosto.
Quando me perco nesse labirinto de várias portas aqui dentro, sempre posso encontrar você na primeira porta que eu abrir, e você só não entra quando eu não quero.
Eu olho pra cima porque gosto de te imaginar grande, mas sei que tens o tamanho exato para caber dentro de mim.
Você é você, mas você sou eu, pois é aqui, dentro desse pedaço de carne que meus milagres acontecem. E então, mesmo não tendo fé, não consigo não te crer.
Você está aqui quando estou sozinha.
Quando danço na multidão.
Quando arqueio o corpo na gargalhada.
Quando abraço os joelhos apertado na depressão do choro.
Quando sou livre.
Quando sinto-me presa.
Você está aqui sempre, mas nem sempre te enxergo. Nem sempre admito.
As vezes uma pedra pra cima acertando bem no meio da sua testa é a vontade para que de alguma forma você olhe pra quem te atingiu. Mas você está olhando, pois é sua mão que atira a pedra.
O reflexo no espelho mostrando os olhos negros mostram-me uma face tua, e a multidão do mundo me mostra todas as outras.
E então, aqueço o que há em mim de gelado e enquanto minha mão enxuga as lágrimas, eu sinto você e sei, jamais estarei só.
Eu olho pra você e você olha por mim e tudo estando bem ou não ou, não importa. Você está aqui.

Camila Lourenço