A verdade é que eu queria muito que você me ouvisse e não fizesse essa cara de cachorro que caiu da mudança quando eu sopro perguntas que só você sabe as respostas.
Queria que você se importasse mais e eu notasse menos. Queria também não me importar com o espaço da sua ausência, nem com a sobra da tua falta.
Acontece que eu me importo. E com um grito discreto, eu sempre chamo seu nome mesmo quando sei que você não pode ou vai ouvir. E com um peso enorme, eu jogo pro chão os braços que você não enlaçou. E é tanta ponta perdida dos nossos laços que o nó que prendia minha fé se desfez. E agora sem laço, sem nó, sem ponta e sem nós, eu não sei o que faço com a corda que sobrou da nossa vida que embalava tanto sopro, tanto ar e tantas vidas.
E agora sem nó que me ate ou desate, eu me tornei um carretel que chia a cada vez que é girado pra dar corda.
E o pior é que meu peito tem síndrome de vira-lata, e bastaria uma migalha da sua atenção ou seu ouvido pra voltar pulsar e pular colorido. Mas você não dá. Você não vê. Você não olha. E eu chio ao invés de cantar, e suspiro ao invés de respirar, e abro a torneira e desaguo o peito que já cansou de ter fé e esperar você olhar e enfim, enxergar.