Tenho maior medo de virar deserto por dentro, sabe?
De virar deserto bonito, de cenário de filme, mas nunca mais ver nada florido nascer em mim e ver meu próprio eu fazendo presença como ilustre celebridade em festa.
Tenho medo de não deixar ninguém mais nascer em mim, nenhuma flor estranha mais me florir e consequentemente, não florir mais também, porque, que jardim teria sido o meu se eu não tivesse me permitido várias mudas? As mudas dos riscos, as mudas do diferente, do ‘porque não?”…
Tenho maior medo disso.
Tenho medo de ouvir Sound Of Silence e não sentir nada ou ouvir Cry e não sonhar. Eu tenho medo.
Tenho medo de ficar como aquela senhora que falou pra uma garota esses dias: “Amor? Minha filha, amor é ilusão de pele. Dinheiro é o tesão que fica.” Eu tenho medo disso.
Medo do meu ponteirinho pequenininho da ansiedade correr mais que o da vida e nem me deixar notar que quando não chega até mim o que eu precocemente quero é porque o que eu realmente preciso está a caminho. Eu tenho medo.
Tenho medo da burrice extrema me pegar e eu me prostrar quando algo ruim acontecer. Tenho medo de cair na comodidade que é jogar nas costas de alguém a responsabilidade pela minha felicidade. Tenho medo de olhar tanto o cinza da descrença e esquecer de olhar pro céu azul que Deus nos dá todos os dias.
Tenho medo dos meus olhos se acostumarem tanto com a normalidade que anda sendo os frutos do desamor e meu coração não mais doer. Porque eu gosto da dor, sabe? Dessa dor. Eu gosto quando o desamor, quando o “não se permitir” me dói. Me lembra que ainda estou aqui.
Tenho medo de gente que era jardim e virou deserto e nem percebe ou sente falta. Desses eu tenho nem sei se é medo, também não é pena. Eu tenho é uma gana. Vontade de beliscar e falar:”deixa dooer!!” Não que eu seja sádica ou masoquista, só não gosto da cegueira que o mundo as vezes prega e dessa mania que as vezes a gente tem de ignorar o que nos incomoda. Como se algo incomodando não nos mostrasse exatamente e também, que estamos vivos.
Mas, o que tenho medo mesmo é de virar deserto e não permitir nem mesmo que as lágrimas pelas lembranças do que foi, regue-me por dentro a ponto de eu florir novamente.
Sentir é estar vivo. E mesmo que haja aqui ou acolá alguns espinhos, prefiro me furar e sangrar à anestesiar-me e nunca mais saber como é a sensação de ter uma flor nas mãos.
“Sound Of Silence – Simon & Garfunkel”
Camila Lourenço