O espaço que massa não preenche

“Eu vivo todos os dias na esperança que chegue logo o dia de morrer em seus braços.”
Ele parece vir sempre do lado errado. Da direção mais fria. Traz dentro de si um fogo que se derrama em palavras, silêncios, flores, lágrimas, sorrisos, abraços e o faz correr em mim como lavas de vulcão.
Eu peço por ele todos os dias e me esquivo outros tantos.
Todas as vezes que o encontrei, eu estava brincando. Ele chegava todo esfarrapado e eu o recebia e o inseria na brincadeira também. E enquanto eu rodopiava segurando suas mãos na praça em frente casa, ele soltava teias invisíveis que entravam pelas minhas veias e iam me manchando o corpo inteiro até chegarem ao que me mantem viva e fazê-lo bater de maneira feliz-triste e estranha. Quando eu voltava pra casa notava que minhas veias estavam mais ressaltadas e começava sentir um buraco de falta crescendo bem aqui, no peito.
Nos ‘inícios’ era até engraçado. Tomávamos sorvete juntos e varávamos a madrugada lendo aqueles textos que nos fazia rir e chorar. Quando eu deitava na cama, ele entrava em meus sonhos e eu aprendia não querer acordar, e quase todo dia perdia a hora, fechando os olhos freneticamente para voltar para aquele sonho bom.
O problema disso tudo é que ele sempre aparecia quando não podia ficar, quando eu tinha que deixá-lo ir. Parecia sempre não ser o dia certo, ou a pessoa certa. E eu aprendi ter medo das suas aparições.
Ele me faz sentir frio no calor e os seus braços tornam-se um convite mais tentador que cobertor e chocolate quente em dias de chuva.
Ele me faz ter calor em dias de tempestade, e dançar na chuva segurando suas mãos parece sempre melhor que qualquer viagem pro exterior.
Ele me faz querer ficar presa por vontade.
E por vir sempre da direção errada, ainda com alguns resquícios de neve em suas roupas rasgadas, eu sempre quero que ele fique. Eu sempre quero aquecê-lo e dar-lhe roupas novas, ou só ficar olhando para o quanto ele fica bonito até de roupas cinzas e velhas e jeans rasgado. Mas ocupada em o aquecer eu acabo ficando dependente daquele abraço. E quanto ele se vai, mesmo o dia estando quente, tudo se torna frio.
Por isso o temo. E por isso todos os dias ajoelhada ao redor da cama e de mãos cruzadas bem apertadas, peço: “Deus, manda-o pra mim. Ele pode vir maltrapilho, (eu não gosto mesmo de coisa amarradinha). Mas, dessa vez, mande-o para morar em mim, pra ficar tatuado na minha pele, pra ser a ponte de safena do meu coração e a ligaruda dos meus pulmões. Mande-o pra ficar.”

Camila Lourenço