O inquilino

Eu vivia reclamando do meu inquilino. Dos estragos que ele fazia. Do furacão que ele sempre parecia ser. Mas, eu não podia simplesmente despejá-lo. A casa na qual ele morava eu havia recebido por herança, e no testamento quem a deixou determinou que ela seria minha, mas que ele habitaria nela até o fim da minha vida. Depois de anos lamentando, resmungando, chorando, revoltando, me lembrei do tal ditado “não pode com ele, una-se a ele”. Foi então que comecei reparar em como as paredes eram mais coloridas depois dele, em como as plantas eram sempre verdinhas, mesmo com a ventania que ele sempre trazia, e, em como havia sempre um sopro musical no ar por onde ele passava. Aceitei então meu inquilino e vi nele meu melhor amigo. É bem verdade que ele ainda arranca, vez ou outra, de mim algumas lágrimas, mas, agora ele me pega no colo, assopra minhas feridas e diz: “é porque você ainda não entende muita coisa, mas com o tempo, você ainda vai me agradecer.”
E foi assim que eu aprendi que meu inquilino valia mais que minha casa. A casa é meu coração. O inquilino, o amor.
“Love is not a fight – Warren Barfield”
Camila Lourenço