O meu castigo

Se eu tivesse 7 dedos na mão, 58 seriam podres. É assim, simples assim essa minha irritante sina.
E eu estou farta disso. Estou farta de errar, de escolher sempre a fruta mais podre da cesta. Estou farta desses dedos podres que me fazem sentir mil e uma coisas que odeio. Mas o que posso fazer? Me diga?
Se você falar para eu me reinventar eu vou rir da sua cara. Já cansei de mudar, de mudar de rua, de roupa, de frequentar lugares diferentes, de ouvir novas músicas. Cansei de tentar mudar, de tentar me reinventar.
Se você falar “calma, quando você menos esperar alguma coisa diferente e que valha a pena acontece” eu vou gargalhar. Só consigo me lembrar que estou esperando por algo ou alguém quando eu sinto esse ódio imenso desses dedos podres me tomar.
E, esperar é uma palavra estranha se ligada a mim. Eu que não consigo parar quieta, que falo muito e que pareço ter sempre um vulcão em erupção dentro de mim, pouco provável que você mesmo consiga me visualizar sentada numa cadeira esperando por algo ou alguém.
Eu odeio esses dedos podres. E nem me venha falar que é o que eu tenho e blá, blá,blá.
Cansei de ter dedos podres, mas me diz, o que eu posso fazer?São os únicos que tenho. E estou cansada disso já. Cansada de verdade. Mas eu simplesmente não sei por onde ou como fazer com que seja diferente.
Eu não sei e esse é meu pior castigo, continuar vendo dia após dia eu continuar escolhendo as frutas mais podres, as flores mas venenosas e as plantas mais difíceis. Não saber e não ter outra escolha é com certeza de longe pior do que ter desaprendido amar. Se bem que uma coisa é praticamente igual a outra, e eu odeio as duas.

Camila Lourenço