Eu vou virar semente e vou vencer o tempo.
Quando meus pés não mais conseguirem fazer caminho e minha sombra não tocar o chão e eu viver o fim que é começo. Quando o último suspiro dos meus pulmões fluir e dos meus olhos não houver mais brilho, eu olharei o tempo nos olhos e lhe direi que fiz da ampulheta que a mim foi dada um banco de areia e agora eu vivia além do espaço, em todo lugar que me fiz semente
E quando eu aqui não mais estiver, eu ainda estarei. Eu terei corrido mais que o tic tac, vivendo nos filhos que gerei, do sangue que deixei e do amor que eu fui.
Quando o tempo me levar, eu lhe abraçarei e lhe direi que eu aprendi que eu não precisava correr contra seu passo, pois havia descoberto como ser árvore além dele.
Eu não corro mais do tempo, pois quando eu for só pele enginhada, eu rirei sabendo que por algum canto desse mundo, eu continuo correndo nos pés ligeiros das crianças e amores pequenos que um dia plantei, pois descobri, é isso o que nos faz infinito.
{Foto: Alexandre Cavarzan}