Para ler ao som de:
Quando eu estiver só, com essa solidão que me cabe tão bem. Com essa solidão que te carrega também. Me carregue nos olhos, me olhe com olhar de pergunta, das que recebem como abraço a resposta do que só a alma sustém.
Quando eu estiver só, me segure forte nas mãos. Me tire dessa sala tão densa, ainda que não possa me carregar. Me ligue para me lembrar de olhar o céu e me dissolver pela lua. Me dê um bombom num dia qualquer, acompanhado de um sorriso daqueles que fala por você.
Quando eu estiver só, perdida nesse meu labirinto interno, sem luz e saída, me abrace forte e me relembre da finitude de tudo.
Quando não houver saída, me leve a alguma janela, me fale em sinais, me deixe chorar, ainda que o choro me impeça de caminhar.
Quando a solidão me carregar, permaneça. Me dê uma lanterna, uma lâmpada e um abraço.
Quando o túnel parecer não possuir fim, me relembre num sorriso de bebê que tudo nessa vida sempre se renova.
É que mesmo sabendo, eu me esqueço no caminho de casa. E eu tenho um puta medo que a rotina da vida nos engula, e eu sei, ela nos engole. E o peso da minha existência as vezes é pesado para os meus ombros sós.
Então, quando eu estiver só. Quando a solidão me achatar em seu estômago, lacrando o porão, me ajude a arrombar a porta e relembrar da leveza da vida e do tic tac implacável do tempo, que a tudo leva.
|Foto: Carol Lima|