Todas as vezes que vou ao dentista, desmaio. Tenho tanto medo da anestesia que depois de recebê-la minha adrenalina se mistura perigosamente com a composição do remédio e ficar consciente deixa de ser um privilégio meu.
Descobri que sou assim com relação aos sentimentos também. Sinto tanto medo de me envolver que o que acaba me fazendo mal é muito mais o meu medo do que os sentimentos em si.
A novela tem sempre o mesmo roteiro. Noites e noites sem dormir, pensamentos insistentes e auto-instrutivos e uma sucessão de irritantes impropérios.
É freio na hora de falar, é freio na hora de sentir, é freio no pressentir. É tanto “freio” que acabo quase nem conseguindo andar.
Me contenho tanto que acabo não fazendo nada de acordo com o que eu realmente queria e, fatalmente, gostando menos de mim e tornando a guerra interior mais violenta e articulada ainda.
Juro que em momentos assim eu queria tirar férias de mim. Juro que é por momentos assim que eu me policio tanto para não sentir.
Dá tanto trabalho sentir que ser oca começa parecer uma sensação deliciosamente cômoda e atrativa. É tão dolorida ser intensa que consigo então entender porque várias vezes quis ser apática.
Estou exausta e exaurida. Quando olho no espelho vejo somente o farrapo do que sobra do ser que combate todos os dias em uma guerra que está longe de acabar. Uma guerra da qual ninguém pode me salvar, porque ela é travada bem aqui, dentro mim.
Camila Lourenço