Recheios de um dia

Recheios de um dia

Os dias sempre são cheios, mesmo os vazios.
Alguns são cheios de acontecimentos, outros de tédio.
Uns são cheios de conhecimento, outros, de ócio.
Nenhum dia passa em branco, mesmo quando nada emocionantemente importante acontece.
O meu hoje foi bem recheado de várias coisas e sensações diferentes.
Começou na madrugada que passei acordada ouvindo as músicas de um celular esquecido, carregado de lembranças. Depois, se estendeu no decorrer de um dia em que fui do medo por me ver vunerável a sentir muita coisa novamente, ao tédio do vazio, à indignação da falsa puritaniedade que invade o mundo e terminou agora, quando, ao ler um texto, me deparei com um diálogo onde um garotinho, de cinco anos, perguntando sobre seu primeiro amor, solta o seguinte questionamento: “Mas então por que o amor existe se a gente não pode sentir?” E então, como um tapa recebido num momento de crise histérica, acordei, e me dei conta do quanto as vezes tudo está errado.
Desejamos ser alcançados, mas temos medo de nos abrirmos e sermos magoados. O vazio continua e continuará sendo um espaço amplo demais para ser entendido. A maioria da nossa sociedade continuará evitando certos assuntos por falso pudor, como sexo, homossexualismo, insatisfação conjugal, medo, e, a maioria de nós, continuará sem sentir o sabor do amor novamente, por que, por não termos tido boas experiências, ou por termos um dia nos magoado, teremos dificuldade em ter novamente a coragem para mergulhar nesse lago profundo de riscos.
Vou terminar esse texto sem a solução de muitos dos problemas e questionamentos que esse dia recheado trouxe. A maioria de nós continuaremos fugindo do que muitas vezes queremos. Muitos continuarão preferindo a cegueira da ignorancia a aceitar que o diálogo continua sendo a solução para assuntos supostamente proibidos. Mas, a pergunta daquele garotinho naquele texto, vai ficar ecoando na minha memória, me fazendo revirar os baús do coração, talvez em vão, mas com aquela concessão resignada daqueles que ouvem da boca de um pequeno exatamente o que sempre pensou mas nunca teve coragem de admitir: ” por que o amor existe se a gente não pode sentir?”

Camila Lourenço