Resiliência

“Uma dose de resignação, as vezes, liberta.” 
Flávia Queiroz

Você nasce e morre um pouquinho em mim todos os dias. Não porque te mato, você se suicida. Vem e arranca de forma discreta o pouquinho de você que você mesmo havia acabado de plantar.
A gente espera todos os dias o dia que alguém chegará pra tornar o céu mais azul, as cores mais coloridas, a vida mais vida. Talvez seja porque nos ensinam isso quando criança. E depois, acabamos descobrindo em doses homeopáticas e amargas, que ninguém tem o poder de tirar o tédio da existência de nossas costas além de nós mesmos. Creio que quando entendemos isso, ter alguém para andar ao lado torna-se uma tarefa com menos expectativas e mais desprovida de dor. Mas como não as ter se hora ou outra alguma coisa num timbre de voz ou em uma forma escrita vem de encontro ao que acreditávamos?
Você veio de encontro ao que eu acreditava e desfaz uma a uma cada uma das verdades absolutas sobre felicidade. Fazendo-a nascer e morrer ao mesmo tempo.
Não preciso de outra mentira perfeita” e quem precisa, não é mesmo?
Estou tirando do seus ombros o peso de ser perfeito ou o centro da minha existência. Estou abrindo espaço no pouco que foi plantado pra mim mesma, que em pouco tempo, quase que pela beleza passageira das cores, me ceguei.
Estou pegando de volta as expectativas de sonhos já mortos, atiradas esperançosa e injustamente em você.
Me esvaziei de mim também. Me soprei pra esses tantos ares que há por aí também me encontrar.
Restou somente o meu eu desprovido de qualquer expectativa muito grande, creio que a partir disso agora possamos sim, começar.
Ser o que eu queria talvez fosse mesmo um peso exorbitante demais pra você. Seja só você. Já me sustento sem usar a ideia de que a vida pode ser perfeita como muleta.

“Fake plastic trees – Radiohead”