Sobre cães, gatos e amores insanos

Quando eu tinha 18 anos eu me prometi que só teria filhos quando tivesse condições de comprar roupas para os meus filhos sem deixar de comprar pra mim.
Achei que enquanto isso não acontecesse, eu jamais iria deixar de fazer nada pra mim em função de alguma coisa ou alguém.
Foi então que eu, que já tinha a Nina (uma cadelinha), adotei 2 gatos.
Primeiro foram as vacinas, os banhos medicinais e depois alguns tratamentos que não estavam no plano inicial e lá se foram toda gordura do salário do mês e dos que estavam por vir.

Há um quê de  mágico no toque de um animal quando você realmente abre o coração para recebê-los. Desde que a Nina, o Raul Seixas e a P!nk entraram em minha vida, tudo mudou. Dizem que só conhecemos o verdadeiro amor quando nos tornamos mães. Acredito que isso seja verdade, mas acredito também que o instinto de cuidado “materno” se manifeste nas mais variadas situações. Quando a P!nk entrou em minha vida, logo após ter sido jogada fora pela janela de um carro, decidi que iria mostrar a ela que o ser humano pode ser bom. O Raul Seixas eu encontrei em uma caminhada solitária após um dia totalmente esquecível, se não fosse o fato de tê-lo encontrado: aquele pequeno montinho de pêlo magrelo e cheio de pulgas que me mostraria o quanto um felino pode ser amoroso e leal a um humano. E a Nina, minha cadelinha, que desde quando chegou me mostrou o quanto é possível receber um amor fiel e leal de um ser vivo.

Quando eu tinha 18 anos, não imaginava que cuidar do outro, mesmo quando esse outro é apenas um animal, poderia ser a coisa mais significativa a fazer na vida em algum momento. Não sabia o quanto a espontaneidade de um cachorro poderia tirar toda dor de um dia, ou quanto o carinho de um gato, seletivo por si só, traria tanto sentido de “especial” à sua vida. Quando eu tinha 18 anos,  não sabia nada sobre amores insanos ou sanos. Quando eu tinha 18 anos, nenhum felino jamais havia subido em cima do meu cobertor e feito xixi, no meio da madrugada, para protestar que sua casinha não estava limpa como ele queria, nem nenhuma acharia havia destruído meus melhores sapatos porque achava que aquilo também era de comer, nem havia recebido um arranhão de uma gatinha que eu havia acabado de salvar e entendido que aquele era seu jeito desesperado de pedir um pouco mais de cuidado e respeito para com seu espaço.

Quando eu tinha 18 anos, eu pouco ou nada sabia de amor e talvez por isso ainda não entendesse que as vezes a forma mais rápida e plena de cuidar de nós, é cuidar de quem nos faz feliz.