Distraído é aquele que tropeça no amor,pede desculpas e continua andando.
|Camila Heloise|
Foi de tanto pular abraçado e cair sozinho que quase vi aquele cara desistir.
Eu o via, dia após dia, saltando quase compulsivamente do avião com aquele pára-quedas, mas nunca só. Algumas vezes o corpo que descia agarrado ao dele tinha o mesmo rosto do dia anterior. No inicio era até bonito de ver. Os dois, ele e a garota da vez, saltavam agarrados, abraçados, como um só, e eu via o pára-quedas se abrir e cada um abria um braço e naquele momento, pra mim era como se houvesse somente um corpo ali, desafiando a gravidade. O encanto dele e o meu porém sempre se esvaia quando depois de alguns saltos, quando sabe-se lá como, de repente, já não havia alguém saltando grudado ao corpo dele. Não sei o que acontecia. Não sei se depois de um ou dois saltos elas queriam experimentar o sabor de voarem sozinhas, só sei que elas sempre desvinculavam-se do pára-quedas do rapaz e dançavam entre as nuvens sozinhas e ele descia sem o sol que nascia no seu sorriso quando alguém o fazia voar por dentro, voando junto.
Eu o observei dia após dia, ano após ano. Não sei como aquele cara nunca desistiu. Um dia porém, algo inusitado aconteceu. Depois de passar umas duas semanas saltando com um garota, vi a mesma fazer aquele cara protagonizar uma cena nova. Ela como todas as outras posteriores, se desvinculou dos braços dele para saltar sozinha, saltou, abriu seu pára-quedas mas voltou-se pra ele e lhe ofereceu as mãos. Eu não sei o que se passou na cabeça daquele rapaz durante aquela fração de segundos que durou aquele momento. Não sei se ele ficou estupefato como eu ou se ficou só feliz. Sei que ele agarrou as mãos estendidas, e aquele foi o salto mais lindo que eu já presenciei aquele rapaz dar. Desde então, acabaram-se os desfiles de garotas. Todos os dias volta sempre “aquela” garota, que pra mim agora é a mais linda de todas.
Aquela menina, provavelmente agindo por impulso, ou só ouvindo o instinto/coração, entendeu que para voar não é preciso utilizar as mesmas asas. Que não é preciso precisar para se querer, e que a liberdade de voar sozinho jamais será barreira para quem decidir voar a dois.
I believe I can fly – R Kelly
Camila Lourenço