Antes de ler o texto, me responda algumas perguntas: sua mãe está do seu lado agora? Você paga todas as contas dela? Você sabe quantas vezes ela chora por mês? Você a leva pra balada junto com você?
Se sua resposta é não para a maioria dessas perguntas, você deve continuar lendo esse texto.
Há uma espécie de crendice popular que o fato de uma mulher ter um filho/filha, fará com que ela nunca mais seja sozinha. Muitas pessoas, bem intencionadas, oferecem inclusive esse tipo de argumento como consolo para futuras mamães, grávidas recentes, ou não, que estão ainda assustadas com o que virá pela frente.
É engraçada a maneira desajeitada que lidamos com esse assunto. Queremos que nossas mães não joguem em nossa cara todos os sacrifícios que fez para nos criar, mas ao mesmo tempo, amparamos pessoas que estão por parir, ou paridas recentes com a ideia de que o bebê a caminho, será a redenção de toda caminhada e talvez árduo trabalho enfrentado. Eu olho pra esse padrão de comportamento e sinceramente, sinto dó dos bebês. Ser humano nenhum, nunca, dará conta de quitar a dívida que tem com sua mãe. N U N C A! E não é justo já nascer com um débito do qual você será, de certa forma, refém, mesmo sem nunca ser cobrado, talvez.
Como mãe solo, noto a importância da representatividade e principalmente, da mulher querer uma gestação. Querer e ir tomando consciência de tudo que representa.
Como muitas pessoas que me acompanham sabe, minha gravidez foi cheia de tensões: término de namoro no início da gravidez, abandono afetivo, descolamento, risco de pré-eclampsia, e por aí afora. Eu reclamei inúmeras vezes de alguns processos. O mal humor, a dor nas costas e até mesmo a dor do peso das decisões solitárias. Mas, apesar de todos os pesares, eu escolhi a gravidez. Eu escolhi levar adiante. Eu escolhi bancar o que fosse pelo bebê. Isso tira dele o peso imenso de me recompensar pelas escolhas que EU fiz. Se o pós vai fazer tudo valer a pena, aí é já outra história. O bebê não nascerá com essa incumbência.
Outra coisa importante que noto é a maneira como a anulação da mãe é normatizada. De repente, as pessoas esperam que você viva para e em função do bebê. E eu não faço parte do time que acredita que esse é o caminho. Vejo a maternidade como uma das muitas funções que uma mulher pode exercer na vida. Talvez sim, a mais importante, mas nunca a única. Mas, a maneira como lidam, e eu aqui ainda acredito na boa intenção, cria um caminho para uma criação abdicada e devota. Eu, na contra-mão disso, prego que a mulher precisa se acolher, aceitar suas dores, seus estranhamentos, suas raivas, se permitir ficar louca, se questionar como vai ser até achar referências de representatividade que a satisfaça e enfim, sim, se dedicar a receber o humano que chegará ao mundo através dela.
Vejo inúmeras mães frustradas, principalmente da geração passada. São mães que abnegaram carreira, aguentaram casamentos e esperaram por uma recompensa que de certa forma, não veio como pintaram ou elas esperaram. É claro que a maioria não admitirá isso, mas se elas já desbravaram por nós esse mundo, porque não nos apropriarmos de toda herança que isso representa?
Tornar-se mãe não te fará nunca mais ser sozinha. Talvez enquanto seu filho/filha for bebê, sim, mas depois, é pro mundão que ele vai e você volta ser só, ainda que com a alma morando com ele.
O nascimento do seu filho não é garantia de redenção, embora seja o momento de maior força da mulher, continuará sendo dela a responsabilidade pelas próprias escolhas e pela colheita do que foi plantado. Às vezes a vida capricha, mas não vá garantida nisso. Evita decepção.
E por fim, um filho não precisa ser sua única motivação de vida. Você ainda é você, e sua individualidade, mesmo totalmente comprometida com o amor transbordante pela sua prole, ainda está aí para te fazer feliz no amor, no trabalho e no psicológico, independente da semente em forma de gente que você vai deixar no mundo.
Se perca. Se permita se perder nesse turbilhão. Só não deixe de se ver.