Minha mãe sempre me dava chá de mentrasto quando criança. Por qualquer coisinha ela surgia com o copo na mão e meu pesadelo dentro. Se eu misturasse “leite com manga” lá vinha ela com o tal chá de mentrasto salgado pra caráleo pra eu beber (sério). E nisso eu vivia botando os bofe pra fora, numa sucessão e vômitos pra mim, desnecessários, mas que ela julgava correto. Resultado:Cresci odiando cada dia mais essa ideia de botar pra fora qualquer coisa que eu ingerisse, mesmo se estivesse me fazendo mal. Uma vez intoxiquei com remédio de um tratamento de dente, fui parar no hospital e nem com dedo na garganta a coisa saiu. Precisou remédio na veia pra me incitá o vômito. Mas, isso tudo seria normal pra mim, daria pra sobreviver, se eu não tivesse trago isso pra vida real, pra vida além do estômago. A gente engole cada bucha, né? Eu sei de mim, e falo que já engoli muita coisa que me fez mal e simplesmente não consegui ”vomitar”. Mas, creio eu, o problema não é nem botar pra fora, e sim, aprender a não engolir. Rejeitar, simples assim. Bem, ao menos era pra ser simples.
Cara, pra mim o mundo tá de ponta cabeça. A gente já não respeita nada, e isso falo me incluindo no bolo. É amizade virando jogo de interesse, é uma falta de respeito com sentimento daqui, dali. Como se todos tivéssemos nos tornado uns secos, frios e calculistas, que não sentem, não se importam, não se magoam, não choram, não nada. Desculpa o palavriado, mas o caráleo com isso de ter que se apresentar sempre feliz, de nunca poder curtir fossa em paz, que você tem que ser forte sempre, que você não pode isso, não pode aquilo outro. que o que você aparenta vale mais do que o que você é. Que um monte de babaca bate palmas pra umas coisas que.. vâmo combiná. Tudo poser. Tudo coisa vomitável. Que a gente devia estar vomitando há tempos. Ah cara, acredito em Papai Noel mas não acredito em gente que tá sempre por cima da carne seca. Gente o tempo inteiro feliz é tão irritante quanto gente o tempo inteiro triste.
Como é que é, Brasil? A moda agora é viver num mundo de máscaras? É se pintar…. fingir que é a moda?Se for, obrigada. Máscaras não me caem bem.
Eu sou por vezes uma tapada. Demoro pra pegar algumas coisas, tenho a mania imbecil de gostar de quem me dá porrada na vida e nem é por apreço, muito menos porque sou mulher de malandro, que gosta de apanhar, muito menos me apego a qualquer espancamento. Não consigo abraçar com a alma aquilo que não altera em nada minha vida. Não consigo ouvir só os que me aplaudem. Na real, são os que menos ouço, embora ame aplauso tanto quanto qualquer pessoa. Mas são os que tocam o dedo na ferida, que vão lá e batem na minha cara e falam “acorda”, ou “Oi?O que você tá fazendo/falando? Sua louca!” Tenho plena consciência que isso pode ser tão maléfico quanto benéfico. Graças a isso passo horas pensando o que tenho que mudar, o que é real ou não. Tenho pra mim que crítica é algo que deve ser levado a sério, independente se venha de algum inimigo. Crítica eu não vomito. Crítica eu remoo feito vaca, até digerir cada razão ou loucura e fazer desse alimento amargo algo proveitoso. Crítica é aquele lance estranho que se você presta bem atenção, descobre o caminho das pedras. Das suas pedras.
Voltei tomar o chá de mentrasto da minha mãe. Tomei tanto que vomitei esse texto aqui. Andei comendo muita merda ultimamente e tava na hora de botar pra fora.
Tomei tanto que fiquei leve e lisa por dentro e com um gosto amargo na boca. Na sucessão de vômitos que me sucedeu notei que bem mereci muitas das cólicas estomacais pelas quais passei ultimamente. Mas notei também que muita coisa que eu consideraria ruim já tinha se tornado proteina em meu corpo e graças a elas, pude me sentir um pouco mais forte.
Agora, de estômago limpo, peguei aqui foi a minha plaquinha esquecida chamada “não”, pra enfiar na cara de tucontécoisa, ou tucontépessoa que vier me fazer engolir o que não me faz bem.
Eu até pediria um mundo menos falso, gente mais transparente, mais sinceridade, mas Papai Noel parou de responder minhas cartas faz tempo. Sendo assim, eu torço mesmo é que a comamos menos merda. Porque como diz a minha mãe, vomitar faz um bem danado, mas escolher melhor o que se come, consegue ser ainda melhor.
Um beijo e um dose de chá de mentrasto pra vocês.
Back In Black – AC/DC
Camila Lourenço