Um amor com gosto de hortelã

Um amor com gosto de hortelã

Para ler ao som de:

Ontem vi uma matéria no Fantástico que me deixou engasgada. Era a história de Fernanda, a mulher com 35 anos (se não me engano) que estava pensando em ter um filho através de inseminação artificial – produção independente – pra ser ainda mais clara.

A dúvida e ânsia de Fernanda foi colocada para que várias pessoas pudessem analisar os prós e os contras da decisão. No final da matéria, entre lágrimas, Fernanda e boa parte dos participantes, chegaram a conclusão que Fernanda deveria esperar mais um pouco.

Me vi na Fernanda. Que mulher nunca pensou em desistir dos seus sonhos de infância, de casar, ter filhos, criar os filhos juntos com o pai? Quem nunca cansou de esperar e pensou em desistir? Quem não pensa?

E olha que durante um tempo eu até acreditava que nós mulheres esperávamos demais. O príncipe encantado, talvez. Mas hoje vejo que não. Só esperamos um pouco de reciprocidade, companheirismo e disposição pra construir a vida juntos. A maioria de nós sequer liga se o cara é bonito ou não, se tem barriga de chopp, se tem pêlo na bunda, se se acha o Adam Levine quando na verdade é a versão brasileira do Axl Rose 2016. Pra ser sincera, a gente nem pede muito.

A verdade é que quanto mais o tempo passa, mais difícil é para a mulher se envolver, não por falta de opções e procura. Sempre temos opções. Mas é que quanto mais nos conscientizamos sobre nosso valor, menos coisas suportamos, mais baixo fica o nível da nossa tolerância – graças a Deus por isso. E é aí que muitas de nós começamos a perder a fé. Veja você, mesmo com quase 7 bilhões de possibilidades no mundo, a certeza de que a meia do nosso pé, o sapato cansado pro dia difícil, todas essas coisinhas tolas, vão se esvaindo dos nossos dedos, como areia nas mãos em férias de verão.

Quem dera, amores com gosto de hortelã estivessem no cardápio de cada esquina. Um amor meio torto, talvez até meio estragado, mas que te aceita como você, e se veste de coragem pra ser aceito também.

Um amor com aquela refrescância da hortelã no suco de abacaxi, seu dom de prevenir inflamações no coração e sua doce aplicabilidade em tudo na vida. Quem dera.

Um amor com gosto de pés gelados no riacho em dias quentes. Um amor que tem coragem de apenas ser.

Mas, esse item não está no cardápio da vida, tampouco há roteiro onde possa ser encontrado.

Apenas sabemos que sua existência de faz presente quando dois seres abrem mão do egoísmo para caminharem juntos e quem sabe um dia, embalarem o início de outra vida, como a Fernanda, da matéria e do início do texto, e tantas outras Fernandas, Camilas, Joaquinas e Carois esperam um dia aconteça.