Você, oceano

Você, oceano

Para ler ao som de;

Olha, vai dar trabalho, eu já lhe adianto. Vai dar trabalho permanecer você e colocar seus pés na direção que realmente deseja caminhar.

Você vai nascer oceano, e por força da circunstância e da necessidade de se “sentir parte”, vai aprender ser mar. E lhe dirão que para alçar voos mais altos, que contradição, lhe dirão que é preciso subir até a fonte. Ser rio, ser riacho, ser nascente. E de grande, você se fará pequeno. E em um belo dia, acreditando ser esse o caminho normal de encontro ao amor, lhe oferecerão um copo, e lhe dirão; entre. E você entrará. E como oceano que ainda é, lá no fundo, do fundo, do fundo, começará se debater. E suas ondas, que no local correto seriam apenas marolinhas, se tornarão tsunamis. E de repente você não vai se reconhecer. Brigará por besteiras que não condizem com o que você é em essência. E quanto menor você se fizer pra caber, nos outros e em si, mais maremotos causará. E de repente, de infinito, você se verá do tamanho de uma lágrima. E nessa hora, agradeça. Quando chegar seu fim. Quando o copo secar, quando sua água parada vermes começar dar, saltite, é aí que está sua saída. Insuficiente para atender o mundo que você se fez caber, te jogarão na vala do que há de pior, e no fundo do poço, do esgoto você encontrará o caminho da sua salvação. E na sujeira você caminhará, sem notar, de onde surgiu. E sendo tudo, entre tuas próprias merdas nadará até se reconhecer infinito e relembrar da verdade que ninguém te disse e ensinou: é na tua essência que mora tua paz, onde todos as ondas são do tamanho exato para apenas quebrar na areia, banhar os pés que querem conhecer o mar, e sua infinitude mergulhar e até mesmo se afogar.

Vai demorar um tempo, eu lhe aviso, mas vai chegar a hora em que você descobrirá, que é onde você está, do tamanho que você é, e na infinitude de todas as complexidades que te fazem você, que mora sua paz, seu amor e seu lar.